Não é deixar pra trás, é viver!
A gente tem mania de dividir tudo em passado, presente e futuro. Mas, e se por algum motivo não fosse mais assim? Se a contagem de tempo simplesmente parasse de acontecer. Se o que você lembra e o que você consegue imaginar não estivessem mais tão longe. Parece loucura? Talvez até seja. Mas é pensando assim que tenho levado os dias dos dois últimos meses na minha vida.
Comecei riscando a palavra perder do meu dicionário. Fica mais fácil fazer quando finalmente entendemos o real motivo da nossa existência. Não estamos aqui pela eternidade, e sim pela aventura de sentir coisas diferentes e inexplicáveis todos os dias. Perder faz parte disso. Talvez seja até o momento mais importante. Quando pra conseguir em frente, precisamos respirar e parar de olhar pra trás e pra frente. Olhar pra dentro.
Comecei a agradecer todos os dias. Não sou religiosa, mas acredito que existe alguma coisa maior do que o pouco que conseguimos entender. Então, seja lá o que ou quem for, obrigada por cada lágrima, sorriso e decepção que me trouxeram até aqui. Tenho certeza que sem aquelas noites sem dormir e textos escritos em vão, eu não teria entendido isso tão cedo.
Dei um tempo de tudo aquilo que me fazia triste. Foram sei lá, duas semanas de introspecção. Entendo como o meu corpo e alma reagiriam a tantas mudanças. Disseram que eu já não era mais a mesma. E eu só conseguia pensar: quanto tempo será que eu precisar pra entender e aceitar isso?
Abri a porta do meu coração. Foda-se se isso algum tempo depois me faria parecer (e fez) mais uma garota apaixonada dizendo coisas previsíveis pra alguém. O amor era a chave.
E então, as coisas que vivi, os caras que beijei e as palavras que nem cheguei a ouvir pararam de ficar para trás. Agora, as lembranças estão comigo cada vez que abro os olhos de manhã. Quando não deixo pra depois e faço questão de dizer ou ouvir. Quando uma boa notícia me faz querer gritar da janela. Quando ligo a televisão pra ouvir a voz de alguém em casa. Quando acordo no meio da tarde pensando que os últimos meses foram um sonho. Quando durmo falando com alguém no telefone. Quando coloco fotos no mural. Quando beijo ele e sinto que meu peito vai explodir. Quando enfim, sou feliz.
Só se for por amor.
Antigamente eu me desesperava. Queria dizer "Ei, peraí, fica mais cinco minutinhos. Deixa eu mostrar o quanto sou engraçada. Porque eu sou, sabia? Sou muito divertida! Não tive tempo de mostrar tanta coisa, toma um café e espera?". Ficava me culpando por meses qualquer fim que não partisse de mim. Qualquer fim antes que eu pudesse fechar o ciclo de me encantar-gostar-apaixonar-enjoar. Que afronta pular fora antes do meu tempo! Ainda não pude ser carinhosa, não tinha tido oportunidade de ser cara de pau e louca, como você gosta. Não deu pra socializar com seus amigos chatos, mas eu vou tentar, senta aí um pouco. E queria perguntar por que eles estavam cruzando a porta. O que eu fiz de errado, o que eu fiz de certo, pra eu mudar e ninguém mais sair assim. O que eu não precisava ter dito e tudo que eu não disse e precisava ser ouvido. Fui demais, de menos? Sufoquei, deixei muito solto? Fui muito mais ou menos? Qual é, tem que ter um motivo e eu merecia saber qual era. Era o mínimo. Em outro tempo eu era exatamente assim. Me vestia de erro e tentava freneticamente ser perfeita pra um próximo amor, enquanto meu TOC de mexer no cabelo ia se agravando, porque ser perfeita é difícil demais e as pessoas continuam indo embora, sem parar. E fazer força pra ser espontânea me parece tão automático, que eu não sabia mais o que fazer, mas precisava continuar fazendo. Hoje não! Se for embora, já foi tarde. Chega de perder meu tempo e desperdiçar tudo que eu me esforço tanto pra fazer bem com quem tá comigo olhando pro relógio. Se não tive do meu lado de corpo, mente e coração, te levo até a porta, te convido a sair. De coração, é um favor que me faz. Não vou dizer que sou super bem resolvida e que assisto essa cena sorrindo e tendo certeza que o problema é unicamente dele. Não posso evitar perguntas passando pela minha cabeça, nem a sensação de ter sido metade de tudo que eu poderia ser ou menos que isso. A sensação de que eu podia ter feito tão melhor, que me persegue. Mas não precisa ter um alguém errado, algumas histórias só não são feitas pra durar e eu sei. Tudo que eu podia ter sido ou feito só ia adiar o fim e prolongar a dor. Então mantenho a porta aberta e vou tentando me curar da mania de mexer freneticamente no cabelo enquanto tento ser perfeita e finjo que não me importo. Porque se alguém ficar, tem que ser por mim, desse jeito, sem tirar nem por! Tem que ser assim, de uma forma sincera, pelo mesmo motivo que eu fico: Por amor.
Não dá pra negar.
Eu sempre fui metódica e inconsequente, por mais contraditório que isso pareça. Sempre soube o que devia ser feito de trás pra frente, mas sempre ignorei o mundo e todos os conselhos, porque eu queria fazer e ponto, isso me bastava. Amanhã é outro dia, não é? E ficava entregue aos meus impulsos até quando a pergunta "Tá valendo a pena?" fosse respondida por um "Não!" imediato. Muitos planos na gaveta, mas sempre procurei não jogar em ninguém o peso deles, até porque ninguém nunca mereceu ser o cara dos meus planos, vale a pena frisar. Ou, pra não ser injusta, nunca tive sintonia com os bons candidatos, tenho essa pré-disposição a quem vá me enlouquecer em pouco tempo. Minha amiga me disse que o meu tipo é gente problemática e eu não pude negar, ela tava certa. Por algum motivo que eu desconheço, trago escrito na testa essa minha preferência por relacionamentos, programas a dois e todo esse mimimi. Prefiro mesmo e isso assusta, eu sei. Mas se eu não soubesse segurar o tranco de ser só, estaria namorando por conveniência ou carência há muitos anos, mas isso ninguém vê. Ouvi muitas vezes a mesma coisa, mesmo argumento, uma fala oficial que me dá sono. Mas queria dizer dessa vez que se eu fosse mesmo pequena, indefesa e assustada, eu quem iria fugir.E isso, ninguém pode dizer que eu fiz.
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