O valor da vida.

Desde pequeno a gente é acostumado a ouvir por aí, desde os pais até a mulher na fila do mercado, que a vida é uma merda. Que homem não presta, que a gente tem que estudar muito, arrumar um emprego que dê dinheiro e ficar bem de vida. Quando se é criança, você diz amém e vai brincar na pracinha. Daí alguém fala "Aproveita enquanto você pode!" e você nunca entende os adultos. Eu cresci e, vou confessar, ainda não entendo. A vida só é uma merda, quando você acolhe esse tipo de pensamento que é apresentado tão cedo pra todos nós e passa a viver só pra isso, ter um emprego que dê muito dinheiro e que te deixe "bem de vida". Mas isso nunca vai ser estar bem de vida, então a fórmula nunca funciona e é mais uma pessoa a todo minuto pra reclamar na fila de algum lugar. Viver de peito aberto, apesar dos pesares, dói, mas nunca vai ser só sobreviver. Eu optei por trabalhar com o que eu amo, porque sou dos meus sonhos, não escrava de um contra-cheque. Minha opção é o amor, acho que é bem por aí. Meu objetivo de vida é uma família feliz, quase um comercial de margarina. Eu faço dinheiro, dinheiro não me faz. Pra ser adulto, não é preciso abrir mão da pracinha, nem de nada que nos faça bem. É só reorganizar o tempo e as prioridades. Enquanto o objetivo de vida das pessoas for dinheiro, a vida vai continuar sendo uma merda.

Myself.

Eu chorando vendo filme de romance sou minha esperança de amor sincero e final feliz. Eu rolando na cama até de manhã sou meu medo de perder as pessoas, de me machucar outra vez. Eu mexendo no cabelo sem parar sou minha insegurança enorme de não ser bonita, inteligente e ter um corpo legal. Eu arrumada e maquiada sou minha mulher auto-suficiente adormecida, que espera essas oportunidades pra se libertar. Eu jogada no sofá sou eu livre, sem neuroses, sem peso, sem forçar barra. Eu no bar com os amigos sou uma pausa nas loucuras, meu momento de distração. Eu hoje sou sua, amanhã quem vai saber ? Gosto mesmo é de ser minha, me emprestar quando for seguro, com garantia de devolução sem danos. No fundo queria é que me roubassem, sem manual, sem dor. Sou muitas, sou muito. Sou intensa, mas não peso. É só você saber como levar. Sou verdade, sou de verdade, sou na verdade mais simples do que complicada. Meio paradoxo, mas sou mulher, ser simples e ponto não é da minha natureza. A questão é que sou, mas sou pra poucos também.

Estragando ou acertando.

Quando tá tudo indo bem, eu sempre tenho a sensação de que alguma coisa, no fundo, tá muito errada. Sei lá, é como se um relacionamento saudável fosse impossível no meio dessa loucura toda, e quando eu não posso ver os erros, eu fico com essa certeza de que estou sendo enganada. E fico procurando, investigando, revirando o mundo pra encontrar os vacilos, mentiras, motivos pra terminar. Percebe a loucura ? É como se ninguém pudesse me amar e ponto, de tanto colarem o adesivo de 'trouxa' na minha testa, qualquer carinho me parece suspeito. Percebe a tortura ? Fico oscilando entre confiar e desconfiar, querendo viver uma história leve e sempre me afundando nas minhas neuroses e cicatrizes. E homem nenhum aguenta isso, homem nenhum percorre meu labirinto até o fim. Mas como eu poderia me entregar, sem antes saber se posso ir inteira ? Como posso confiar de novo, sem saber se vai ser realmente diferente ? Quero alguém que rompa meus lacres, não que me lacre mais ! E sigo estragando tudo, só pra não ficar pior depois. Quando eles finalmente se cansam e caem fora porque eu sou louca de pedra, eu fico satisfeita. Volto pra fossa por um tempo, sem mistérios, já conheço bem o lugar e a porta de saída. E penso "Viu, sabia que eu tava certa". Talvez eu até esteja errada, mas que se dane. Se uma pessoa não tem paciência nem pra conquistar minha confiança e afastar meus medos, o que eu posso esperar então? Sou quebra-cabeça de 500 mil peças, quem não tiver capacidade, tenta um jogo mais fácil. Eu supero e agradeço.

Cafajestes.

Venhamos e convenhamos que não tem nada mais atraente do que um cafajeste. Sempre tão cheios de si, mil mulheres correndo atrás e um poder de persuasão indiscutível. Eles sempre sabem o que deve ser feito, o que deve ser dito. Os reis da auto-confiança. Eles são um tipo de castigo pra gente que idealiza tanto, tô pra conhecer quem nunca sofreu por um desses ainda. Sem perder sua essência, eles se dividem em muitos subtipos, tem cafajeste pra todos os gostos, minha gente. Os cafajestes de família estão no topo da cadeia ! Você sabe que ele é um cara legal, te envolve como ninguém, um ótimo perfil pra se namorar, mas o cara gosta de você e de todas...
”Olha, eu não quero me comprometer nem tão cedo !” Aconteça o que acontecer, ele não vai mudar de ideia. Sincero, sem ilusões. Você também não quer, sem problemas. Vocês tem uma relação legal, ele te dá atenção na medida sabe? Te dá tudo na medida, você não queria namorar nesse momento não, mas pensando bem...como ia ser bom se vocês namorassem, você já tá apaixonada mesmo, agora já era ! Aliás, só não namoram porque...ele é um cafajeste, droga. Tem o cafajeste típico, esses tem de sobra ! Ele te conhece de vista a um mês, quando ele finalmente se aproxima, na primeira semana já te ama ! E te acha diferente, especial, muito linda e todo aquele blábláblá que a gente já conhece. Na primeira semana meu bem, isso é sério ? São adeptos fiéis ao bom e velho “vai que cola né ?”, com seu leque de cantadas limitado a clichês, ele usa o mesmo papinho pra todas, e sim, tem quem acredite e se apaixone e todo aquela fossa que a gente sabe bem qual é. Esse tipo eu acho bem patético, não sei bem se me irrita ou me dá pena, mas enfim. Tem o cafajeste por acidente, ou talvez não tão acidente assim. Ele tá contigo, sempre diz que gosta muito de você, mas sempre vacila. Ele sabe que tá vacilando, mas o instinto dele fala mais alto que o sentimento por você. ”Isso te magoa amor ?Desculpa, não faço mais” Não faz mais hoje, amanhã a saga continua. A cadeia é extensa, então pra finalizar vamos falar sobre a base da pirâmide: Os cafajestes surpresa ! De primeiro instante, ele é um cara normal, sem cartas na manga, não te ilude, você pode se apaixonar ou não, mas geralmente embarca nessa confiante de que não vai se apaixonar, afinal, ele é bem normal. Os dias passam, ele tá gostando de você, você gosta de estar com ele... se ele te pedir em namoro, tá feito, vocês namoram ! Vale a pena ser frisado que você estava em paz, tranquila e ELE estava gostando de você, você gostava de ESTAR com ele, mas aceitou namorar, não tinha nada a perder. Até que você se envolve também, e tá tudo muito bem, tudo muito bom até que ele quer um tempo. OI ? é, um tempo ! Ele não tá seguro do que quer, não quer te magoar, te envolver nisso...O problema é com ele, vocês aconteceram num tempo errado, vai ser melhor pros dois. Que desgraça ! Que egoísmo ! Que babaca ! Revoltas á parte, voltamos à fossa, merda. Não tem muito pra onde correr, eles estão por todos os lados... escolha já o seu e boa sorte ! Menos cruel do que ser escolhida.

Do meu jeito, e ponto.

Eu não jogo! Queria andar com um crachá escrito isso, todos os dias. Um dia eu tava no banheiro de uma casa de festas bem badalada e ouvi uma menina dizendo pra amiga "É minha filha, tem que saber jogar!" e elas riram. Essa menina tava começando a ficar com um menino lindíssimo, que tinha mil outras garotas atrás, na frente, dos lados. Eles tão namorando há anos, felizes, acho que vão noivar. Tá errada ela? Tô errada eu? Não sei, mas posso garantir que a vida pra ela é muito mais simples. Se eu quero ficar com alguém e houver uma oportunidade, eu não vou enrolar mais uma semana, um mês. Fazendo ele esperar, eu espero também e não nasci pra isso. Eu sei bem que quando você é indiferente, eles te dão muito mais atenção e toda essa coisa. Tenho preguiça de quase todos os caras que eu já fiquei e minha preguiça desperta paixão, "amor", flores e declarações. Minha atenção é sempre sincera e bem menos valorizada, já notei também. Se eu gosto, não consigo fingir indiferença, não curto máscaras nem quando são "saudáveis" ou “necessárias”. Se eu digo não, eu quero dizer não, sem "mas" ou entrelinhas! Não me faço de difícil, não minto, não tenho medo de ser julgada fácil, não me faço e ponto, acho que é bem por aí. Gosto de você? Te digo. Não gosto? Deixo claro. O que você quiser saber, te conto, verdades em pratos limpos, nosso almoço e nosso jantar. É um jeito bem mais complicado de se levar a vida, mas eu nunca fui fã de facilidades, confesso. E se o preço a se pagar por isso é gente indo embora, adeus, deixo a porta aberta. Nunca me ausentei de mim pra prender um cara ou uma amiga. Sempre fui completamente eu, sem me transformar em pecinha de jogo por uns dias, ser fantoche das próprias regras friamente elaboradas. Admiro a praticidade da menina do banheiro. Mas acho que tem que ser sincera, minha filha.

Pra abrir as asas.

Quer saber uma verdade ? Quando você ama uma pessoa ausente, a saudade esmaga no início, dói de verdade, mas uma hora, como tudo na vida, você se acostuma. Mais cedo ou mais tarde, se acostuma. No começo você quer saber como foi o dia dele, deseja a cada segundo que ele estivesse por perto, vai de cinco em cinco minutos fuxicar as redes sociais. Até, enfim, não sentir mais nada. Por muito tempo eu me convencia todos os dias que sua ausência era temporária, necessária pra sua vida voltar pro lugar, que você também tava morrendo de saudades e querendo que isso acabasse logo. Por muito tempo eu fechei meus olhos pro fato de você ser ausente e ponto, sem desculpinha. Pro fato de você não sentir saudade nenhuma, porque eu me viraria do avesso pra gente se encontrar dez minutos e você não movia nem um dedo pra isso. Hoje, liberta do meu vício de você, eu vejo que sua ideia de amor, relação e carinho são um tanto quanto vazias, banais. Hoje percebo que você sempre me deu pouco, porque talvez seja seu máximo a oferecer. Sua vidinha vazia te faz feliz porque ela não te cobra maturidade, você pode ser moleque em paz. Tanto cara por aí, tanta vida pra eu entrar ainda, e eu esse tempo todo deixando o mundo escapar pra tentar prender você. Você acha que voa alto, e morre de medo de entrar em gaiola. Na verdade você nem voa, filhote não sai do ninho, esse sempre foi nosso problema. Quem voa sou eu. Agora eu sei.

"É que quando eu não tava legal, te procurava pra ficar bem. Mas... se eu não tô legal por tua causa, procuro quem?"

"Minha presença ausente, congelada e automática não era raiva. Não era pirraça. Não era joguinho. Era carinho, muito carinho decepcionado. Vontade de abraçar forte, cheia de saudade. Vontade de nunca ter conhecido, cheia de mentiras. Nem sabia se um dia existiu verdade, mas me poupei de fazer perguntas que eu não queria saber as respostas. Vamos pular o drama e eu aceito o fim sujo de lama, escorrendo pelo chão, sem querer saber como ou quando ele começou a ficar sujo. Sem querer descobrir se um dia foi limpo. Mas não era vingança, nem nada feio, entende? Antes fosse."
‎"Sabe quando você quer chorar? Quer gritar, berrar, deitar na cama, ouvir músicas tristes e não sair de lá… Mas continua parado no mesmo lugar fingindo que tudo está bem?"

"Um paradoxo do pretérito imperfeito, complexo, com a teoria da relatividade..."

Dividida entre minha vontade de me esconder atrás do papel e gritar minha loucura pro mundo, escolhi a segunda opção! Porque não há dor que se instale, nem mal que perdure, quando a gente se expõe, se impõe. Então, AQUI ESTOU. Sou de caneta, ás vezes careta, mas uma vez escrita, não tem como apagar. Sentimentos em parágrafos, mágoas em entrelinhas, histórias eternizadas. Personagens reais, das coisas mais banais ao mais íntimo do meu ser. Sou feita de linhas, sou a vírgula, o ponto continuativo. Nada de terapias, remédios ou maiores dramas. Me dá uma caneta e deixa que a tinta me cura aos poucos, escrevendo aos loucos, um texto sem fim.
“O diabo dessa vida é que, entre cem caminhos, temos de escolher apenas um e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove.”

Reler, guardar, seguir.


Aposto o quanto quiser que todo mundo já sentiu dúvidas, perguntou-se “estou no caminho certo?”. Eu me pergunto todos os dias... Outro dia ouvi alguém me dizer “você quer agradar todo mundo. E você? Se agrada com isso ou é só medo?”. Na hora exclamei que estava errado, que eu pensava em mim e se isso agradava os outros era só uma conseqüência!
- mentir pra eu mesma foi a solução mais rápida e próxima que encontrei -.
O dia amanheceu cinza e o que me rodeava, os sentimentos. Sentimentos guardados, amargurados talvez, mas, preferi guardá-los novamente, é perigoso demais tentar pegar o ultimo livro de um empilhado de livros... Só duas coisas acontecem, ou você o puxa lá de baixo e derruba todos ou tira um por um e bagunça tudo. Preferi então não ler esse livro mais uma vez. Preferi deixar tudo como esta. Sem bagunça. Sem barulho. Pelo menos ainda tenho uma caneta e um coração, CHEIOS pelo que posso ver, e como um sábio me disse certa vez, a vida é feita de escolhas, você só precisa saber se é forte o suficiente para conviver com as conseqüências da sua escolha, o resto é lucro. Optei por não deixar ninguém sofrer por mim já que tudo que vai volta. E deixar livros antigos empoeirados, empoeirados onde estão.

Mais um pouco sobre o amor.


"O amor nem dá pra definir direito. Acho que é um desejo de abraçar forte o outro, com tudo o que ele traz: passado, sonhos, projetos, manias, defeitos, cheiros, gostos. Amor é querer pensar no que vem depois, ficar sonhando com essa coisa que a gente chama de futuro, vida a dois. Acho que amor é não saber direito o que ele é, mas sentir tudo o que ele traz. É você pensar em desistir e desistir de ter pensado em desistir ao olhar pra cara da pessoa, ao sentir a paz que só aquela presença traz. É nos melhores e piores momentos da sua vida pensar preciso-contar-isso-pra-ele. É não querer mais ninguém pra dividir as contas e somar os sonhos. É querer proteger o outro de qualquer mal. É ter vontade de dormir abraçado e acordar junto. É sentir que vale a pena, porque o amor não é só festa, ele também é enterro. Precisamos enterrar nosso orgulho, prepotência, ciúme, egoísmo, nossas falhas, desajustes, nosso descompasso. O amor não é sempre entendimento, mas a busca dele. Acho que o amor não é o caminho mais fácil, pois mais fácil seria dizer a-gente-não-se-entende-a-gente-não-combina-tchau-tchau. O amor é uma tentativa eterna. E se você topar entrar nessa saiba que o amor encontrou você. Seja gentil, convide-o para entrar."
‎"Um dia, quando menos se espera, a gente supera."

Mais comum que "bom dia".

Duas semanas solteira e minhas amigas e amigos insistiam pra eu sair. Eu não queria, ou talvez queria, me arrumei, e sai. Naquela noite eu devia estar sendo leiloada e esqueceram de me avisar. Já me explico. Trajeto casa de uma amiga-boate, paramos num barzinho, tava cedo. Sem perder tempo, o primeiro carinha da noite já veio me entediar. O nome dele eu nem lembro, mas posso te falar horas sobre o carro do sujeito. Não entendo nada de carro, mas decorei até a placa, de tanto que o mala repetia, enquanto eu tentava sair estrategicamente.
O motor era o melhor, a roda era a melhor, carro caríssimo, pintura personalizada, se eu ganhasse dez centavos toda vez que ele falasse "O meu carro", eu poderia ter comprado aquele bar. E eu desejando, do fundo do meu coração, que as quatro rodas estourassem naquele momento. Que preguiça. Saímos com pressa, chegamos na boate e encaramos a fila. Mas eu ter paz naquele dia era pedir demais, então claro, não podia ficar tranquila enquanto esperava. O segundo carinha tinha casa até no inferno. O pai era empresário, a mãe socialite, tinha mil cachorros de raça pura, alguns carros, casa de três andares, piscina, trezentas suítes e banheiros... juro que ele descreveu. Pegou alguma coisa sem importância da carteira, só pra eu ver o dinheiro. Ele falando sem parar sobre todos os milhares de bens materiais que ele tem espalhados pelo mundo e eu só conseguia ver uma placa escrita "Babaca" em vermelho, piscando em neon em cima dele. Hoje estavam todos decididos a monologar comigo, não foi difícil notar. Enfim, entramos. Não demorou muito até chegar o terceiro. "Quer quantos baldes? O que você quer beber? É só falar! Quer camarote?" Não consegui mais esconder minha abominação. Tava extremamente incomodada e já tinha gastado toda a minha paciência. "Meu filho, olha bem pra mim e me responde: Tô na esquina?" Ele riu, achou que fosse alguma piada "Não, por que gata?" Aquele ‘Gata’ me deu nos nervos. "Ótimo! Porque eu não sou puta, achei que isso tava um pouco confuso pra você!" Fui grossa, foi merecido. Ele saiu, sem graça, fiquei leve. Naquela noite foi excessivo, mas isso é tão normal quanto "Bom dia" nos dias de hoje. Aliás, rola mais do que "Bom dia", diga-se de passagem. Sempre me sinto mal, dessa vez, queria registrar meu nojo. Não pelos imbecis que já se apresentam mostrando o nome no cheque. Mas pelas "mulheres" que, se achando muito espertas, aceitam, gostam e estimulam esse tipo de comportamento lamentável e triste. Uma pena seu valor ser uma etiqueta nas costas, sujeita a negociação. Uma pena eu ter que ser negociada, porque vocês tão na vitrine.
Pensei comigo mesma e ressaltei, vou correr pra casa, ligar pra ele que eu prefiro concertar que jogar fora. EU não sei mais viver nesse mundo onde dinheiro e babaquice vale mais que uma flor pegada na rua. Eu vou dizer que não sei ser como essas mulheres, quero dizer.. meninas, e que o meu coração não sabe andar pela noite por ai, sendo leiloado de carteira em carteira, que eu prefiro o aconchego dos braços dele, e o cheiro do seu cabelo, que dinheiro nenhum no mundo compra.
Não adianta. Mudam-se as cores do inverno, os sorrisos, as páginas das revistas, as dez mais bonitas. Mudam-se as tecnologias, as manchetes, o preço do pão, o jeito como você corta o cabelo. Mudam-se os sonhos, o clima lá fora, o tom do batom, a decoração, o que você espera de si mesma. Tudo muda o tempo todo. Mas uma coisa não muda. Não sai de moda. Não fica velho, nem ultrapassado. Quer saber? Acho amar a coisa mais eterna que existe. Não há nada mais moderno. Mais transgressor. Mais ousado – e mais antigo – que isso. Num tempo onde as pessoas mal têm tempo, amar virou coisa de gente corajosa. Porque é preciso muito peito (e muito jogo de cintura) para seguir o que temos de mais criativo: o coração.
É o amor que nos faz ver o mundo de um jeito mais belo. E é o amor (e só ele!) que nos traz o valor exato das coisas simples. E você não precisa necessariamente amar uma pessoa. O amor é democrático. Você pode – e deve – amar a si mesmo e ao mesmo tempo amar alguém (essa, sim, é a melhor combinação!). E também amar a vida. Amar um projeto. Um trabalho. Um sonho. Ou – porque não? – simplesmente amar o amor. Se todo amor vale a pena? Eu acredito que sim. O mundo não está triste só por causa das guerras, do superaquecimento global e do tal “salve-se quem puder” As pessoas se escondem atrás das tecnologias e de um falso liberalismo pra camuflar seus medos. Para enganar seus desejos. Ah, me desculpem, mas no fundo todo mundo quer mais é se apaixonar! Mentira minha? Duvido. Todo mundo quer amar, todo mundo quer encontrar alguém especial, todo mundo quer se livrar do medo que nos impede de andar de mãos dadas. É certo que há quem prefira o morno, os relacionamentos superficiais, as noites vazias. (Relacionamentos trazem tantos problemas e alegrias quanto estar só, isso é uma verdade). Mas tenho a impressão de que todos nós temos um leve romantismo escondido, um desejo real pelo amor, uma necessidade de amar e ser amado sem a qual a vida não teria graça. (E não haveria tantos poetas, tantas canções bonitas e tanta insônia por aí).
Escrevi, uma vez, uma letra onde canta a seguinte frase: “Será que amar é mesmo tudo”? Na época eu não saberia responder. Mas, hoje, cheguei a uma breve conclusão: não, amar não é tudo. É quase tudo. Amar é o começo. O primeiro parágrafo. A primeira nota. É o que canta (e encanta). Amar é que nos faz falar. É o que nos faz acordar. É o que nos faz dizer “Bom dia” com o sorriso mais livre do mundo. Se eu estou amando? É, devo admitir. Depois de vários romances sem fim, me apaixonei por mim mesma. E, como presente, ganhei um novo amor que é fruto de todos os grandes amores que tive. Sorte minha? Talvez. Mas amor não é apenas sorte. Não pensem também que amor é a solução pra todos os nossos problemas. Não. Amor não é solução. Amor é prêmio. Recompensa feliz para quem – afinal de contas – conseguiu manter-se fiel a si mesmo. Por isso, escrevo esse texto. Em uma época em que os desejos duram o tempo de uma estação, acho o AMOR o exercício mais radical que podemos fazer.