De cara limpa.
Nunca tem roupa o suficiente, sapatos que combinem, maquiagem pra ocasião. Sempre falta o batom ideal, um pincel mais profissional, um cinto que faça toda a diferença. Você compra o vestido mais lindo do mundo e depois da segunda vez que usa, já tem certeza de que o mundo inteiro já te viu com ele e precisa urgente de um novo. A moda vem, a moda vai e acompanhar é quase um esporte. É de enlouquecer qualquer uma e do tipo de loucura que não tem fim. Repica o cabelo, pinta, faz franja, californiana, ombré hair, deixa crescer, volta à cor natural. Academia, dieta. E tudo isso pra quem? Tudo isso pra que? Pra ser melhor do que a menina que te olha torto, impressionar, pra não enjoar da imagem refletida no espelho, pra se sentir desejada pelos carinhas que se acham o máximo, mas são o mínimo. Se sentir melhor consigo mesma, talvez. Mas me diz, no final de tudo, no fim das contas, se sente mesmo? No dia seguinte da festa, depois do demaquilante, com o cabelo preso, essa é você. E ela é absurdamente linda, sem roupa enfeitada, sem forçar a barra, crua. Depois do banho, de cabelo ainda molhado, é o estado mais puro e sublime da beleza que quase todas insistem em esconder com quilos de pó corretivo e base. A triste verdade é que a gente passa a vida se maquiando, produzindo, mudando o cabelo e o guarda-roupa a todo instante, esperando pelo cara que ache tudo isso muito bonito, mas num domingo de tarde qualquer, te olhe de short, blusa branca e chinelo e confesse, meio sem jeito "Eu prefiro mil vezes você assim, de cara limpa."
Não se pede, não se implora.
"Amor não se pede, é uma pena. É uma pena correr com pulinhos enganados de felicidade e levar uma rasteira. É uma pena ter o coração inchado de amar sozinha, olhos inchados de amar sozinha. Um semblante altista de quem constrói sozinho sonhos. Mas você não pode, não, eu sei que dá vontade, mas não dá pra ligar pro desgraçado e dizer: ei, tô sofrendo aqui, vamos parar com essa estupidez de não me amar e vir logo resolver meu problema? Mas amor, minha querida, não se pede, dá raiva, eu sei. Raiva dele ter tirado o gosto do mousse de chocolate que você amava tanto. Raiva dele fazer você comer cinco mousses de chocolate seguidos pra ver se, em algum momento, o gosto volta. Raiva dele ter tirado as cores bonitas do mundo, a felicidade imensa em ver crianças sorrindo, a graça na bobeira de um cachorro querendo brincar. Ele roubou sua leveza mas, por alguma razão, você está vazia. Mas não dá, nem de brincadeira, pra você ligar pro cara e dizer: ei, a vida é curta pra sofrer, volta, volta, volta. Porque amor, meu amor, não se pede, é triste, eu sei bem. É triste ver o Sol e não vê-lo se irritar porque seus olhos são claros demais, são tristes as manhãs que prometem mais um dia sem ele, são tristes as noites que cumprem a promessa. É triste respirar sem sentir aquele cheiro que invade e você não olha de lado, aquele cheiro que acalma a busca. É triste amar tanto e tanto amor não ter proveito. Tanto amor querendo fazer alguém feliz. Tanto amor querendo escrever uma história, mas só escrevendo este texto amargurado. É triste saber que falta alguma coisa e saber que não dá pra comprar, substituir, esquecer, implorar. É triste lembrar como eu ria com ele. Mas amor, você sabe, amor não se pede. Amor se declara: sabe de uma coisa? Ele sabe, ele sabe."
Meu coração chora.
Depois de meses, eu me pego sentindo sua falta. Tenho pensado muito em você esses dias e não tenho certeza se estou com saudades ou sem algo melhor pra me ocupar os pensamentos. Como era bom o que a gente tinha. E eu queria ser telepata só pra saber se você pensa em mim, de vez em quando, lembra da gente também. Se foi tudo isso pra nós dois ou eu colori demais. E eu odeio essa tendência das histórias à virarem um nada. Eu odeio a transformação brusca da presença intensa em total ausência, sem que se tenha tempo de protestar ou período de adaptação. Acho injusto o amor ou amizade ser finalizada e levar com eles, de pirraça, os espaços pra qualquer outro tipo de relação. Conhecer uma pessoa incrível tão de perto e ver ela virando um estranho, tão de longe. Pensei, repensei, lutei muito pra não te mandar uma mensagem, singela, realmente sem segundas intenções. Relutei, porque pode parecer, pra muita gente, uma tentativa patética de reconciliação ou mendigagem de sentimento, minhas amigas desaprovam e porque, pior, pode parecer isso pra você também. Mas você sabe que pensar ou não pensar não adianta muito, porque não costumo deixar passar vontade e você me conhece bem. Então, queria te dizer que virei a noite lendo um livro e o personagem principal me lembra tanto você, é incrível. Ele é você e me faz ter tanta saudade de tudo. Mas isso já não é da sua conta, enfim. Saudade não é vontade de tentar de novo e eu tô só dando um oi, que é pra você não sumir assim. Pra vê se lembra o que um amigo faz e, de vez em quando, vem contar a vida pra mim. Um oi, você sabe, só pra lembrar que eu tô aqui. Amigos, não era isso?
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