Casar e morar junto são duas coisas completamente diferentes. Não tem nada a ver com seu status no cartório. Tem a ver com entrega. Você pode casar com todas as honras, dar uma festa linda, gastar os tubos na Lua de Mel, se mudar com o marido para um apartamento lindo, pronto e decorado, cheio de almofadas em cima da cama. Vocês podem ter se casado – mas vão demorar muito pra saber o que é morar junto. Acho que existem casais que se casam e nunca talvez tenham realmente morado juntos. Morar junto é saber dividir, saber cobrar, saber ceder, saber doar. Morar junto é dividir as contas e as almas. Morar junto é ter um pilha de louça pra lavar depois de um dia terrível de 10 horas de trabalho e o outro cantar com você para que, em um karaokê com detergente o trabalho, se torne divertido. Morar junto é ter que assistir à um filme que você não está tão a fim, porque é a vez do outro escolher a programação e se esforçar para achar legal. Morar junto é tomar banho junto, transformar o chuveiro em uma cachoeira. Morar junto é ouvir onde dói no outro, do que ele sente medo, onde ele é criança, o que o deixa frágil. Morar junto é poder chorar sem parar e ser ouvida e cuidada. Mas é também rir e achar graça em alguma coisa quando o outro está pra baixo. Morar junto é fazer contabilidade de frustrações e saber quando não colocar na conta do outro. Morar junto é demorar para levantar.
Morar junto não precisa de uma casa e sim de um espaço. Quem mora junto geralmente é solidário. Casar não, qualquer um casa. Para casar basta assinatura e champanhe. Casar leva umas horas, morar junto leva tempo, o tempo todo.
Quando moramos juntos vemos o cabelo dele crescer e ela cortar uma franja. Quando moramos juntos viramos adultos aos pouquinhos, dando um adeus doído ao adolescente que éramos. Quando moramos juntos mudamos juntos. E o outro vira um outro diferente com os anos. E nós vamos aprendendo a amar aquela nova pessoa, todo dia.